Gravura Brasileira

Sheila Goloborotko

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Emoção em múltiplos idiomas

Sheila Goloborotko afirma: “Faço gravura”. Esta é uma afirmação redutiva; seu alcance é amplo e abrange uma variedade de expressões em meios diversos, com ênfase em reflexões sobre a vida e a morte. Embora ela parta do conceito/técnica de gravura, os seus desenvolvimentos vão além desse oceano conceitual. Ela é uma artista envolvida com o pensamento contemporâneo e trabalha seus temas não apenas como temas visuais em si e para si, mas também no que diz respeito a suas conseqüências sociais, ao modo como o tema revela a situação das pessoas envolvidas, e ao modo como alguns artistas souberam aguçar os seus instrumentos de expressão para nutrir, por sua vez, as teorias críticas e os pensadores. Vemos o trabalho de Sheila divagar entre gestos românticos e de iteração visual em Queria Que Você Estivesse Aqui e Os Olhos. Este traço também está presente em outro par de abordagens distintas, revelando tristeza e perda – como em Umm Al-Basatin; e o prazer dos olhos do leitor mirando sem limites– em Os Olhos e Os Olhos-gaze. Duas séries tomam caminhos não convencionais tanto na área técnica como conceitual: Os Mapas e Os Achados. Os Mapas, “Milhas, Espaço, Quilômetros, Caminhos, Encontro = Chance, Fronteira e Divisas”, são gravuras em acetato, feitas com rolos de aproximadamente 53 cm de comprimento e 7,5 cm de diâmetro cada um, fazem lembrar os primeiros rolos de pergaminho, interpretações secretas do mundo… Os Achados, por sua vez, são encontros metafísicos na cidade ou no mar. Coisas, partes que parecem um tricô de arame - que com certeza sofreram muita corrosão… Por isso são Os Achados que guardam um segredo profundo e cujas origens desconhecemos.

Além da morte, do sofrimento e da destruição, a vida também tem uma presença marcante no trabalho dessa artista. Encontrando objetos, recuperando-os, aceitando-os no seu anonimato e condição física e dando-lhes a possibilidade da vida - simbolicamente, deteriorados - estes objetos abandonados são equivalentes a pessoas aflitas, enfermas. Na série de obras intitulada Os Olhos, Goloborotko trabalha com a auto-reflexão, no corpo, no seu corpo, este instrumento universal dos artistas. Mas principalmente através dos seus olhos, Sheila percebe o momento ritual em que descobre algum mistério, algum instante de comunicação com a natureza, ou algo que a sua mão criou com uma idéia mas que expandiu-se em múltiplas direções - sem perder o tópico principal. Nenhuma das suas séries é distante do milagre do olhar, através de seus olhos ela vê e cria; pelos seus olhos descobrimos centenas de milhares de possibilidades.

Em Umm Al-Basatin, Sheila desenha um mapa de cidade, concentra-se no alvo humano. A cor da obra faz pensar em sangue: manchas por toda a parte, a explosão de uma ponte, dor, uma cidade invadida. Como alguém pensa em ajudar provocando mais mortes e danos? Essas obras podem ser características de Umm Al-Basatin, mas o mundo indubitavelmente converteu “a cidade redonda” na triste arte contemporânea global. Se Diamantes e Carvão formam um grupo de gravuras que evocam a natureza, eles também de alguma maneira nos levam ao poliedro convexo regular de Platão. As formas nestas gravuras não são realmente sólidas; tampouco são ocas; elas são elementos planos, mas reconhecem a sabedoria das bordas, vértices e ângulos. Relembrando a classificação geométrica de Platão, recebem o mesmo nome que homenageia o filósofo clássico e nos conduzem às afirmações filosóficas de Sheila. Ela respeita a história e trabalha com muitos dos seus instrumentos, embora seja profundamente atenta às mudancas na velocidade do nosso tempo. Outro portfólio de Goloborotko, O Que Os Olhos Não Vêem, é uma instalação única e interessante, com gravuras penduradas como se fossem retalhos de pele – olhos, ossos, orelhas – repousando em várias seções de um varal metálico flexível.

A tarefa de um crítico de arte contemporânea não seria cumprida sem a menção a suas realizações com o barro. Ela apresenta Os Pratos em cerâmica – com relevos horizontais ou verticais. Estes são suportes abstratos e harmônicos para elementos da vida diária. Os Pratos são a figura perfeita: o círculo. Neles, desenvolve-se uma variedade de situações, poderíamos dizer que cenas teatrais se realizam nessas superfícies. Sheila faz freqüentemente trabalhos com cerâmica, e observa-se uma relação recíproca entre esses objetos e sua gravura – tanto a tradicional como a de técnica mixta. As Testemunhas são obras gêmeas daquelas em cerâmicas, e também podemos considerá-las um breve sumário de seus trabalhos da década passada, inclusive de obras não apresentadas neste catálogo. Espaço, escada, relevos, texto, olhos e formas orgânicas, explosão, bomba, dispersão de carbono, lembrança de árvore, cerca que oculta pessoas seqüestradas, dizeres populares e urbanos, sombras do que a vida costumava ser. Sheila Goloborotko, exprimindo suas emoções em múltiplos idiomas, é
uma dessas artistas que nos ajudam a compreender o mundo.

Graciela Kartofel
Curadora/Crítica Independente
Nova York, Setembro de 2008

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