SOBRE
Na década de 1960, Sérgio Ferro participa do Grupo Arquitetura Nova, com Flávio Império (1935 - 1985) e Rodrigo Lefèvre (1938 - 1984) voltado para uma compreensão do exercício da profissão de arquiteto, simultaneamente como ação cultural, política e produtiva. O grupo realiza propostas de políticas públicas urbanas, ligadas a projetos de habitações populares. Os projetos de residências realizados por Sérgio Ferro no período mantêm diálogo com a produção de Vilanova Artigas (1915 - 1985).
Devido à ditadura militar no Brasil, o artista é obrigado a mudar-se para a França em 1972. Passa a dedicar-se à pintura e à carreira docente, lecionando na Escola de Belas Artes e na École Nationale Supérieure d'Architecture de Grenoble [Escola Nacional Superior de Arquitetura de Grenoble], França. Na pintura, realiza obras de caráter figurativo, em que tem como referência grandes pintores da história da arte, retrabalhando principalmente figuras presentes nos desenhos e pinturas de Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564).
Para o artista, ao mesmo tempo em que as figuras remetem a Michelangelo, elas se inserem numa outra realidade, porque a luz é cinematográfica e a musculatura, pouco fiel à anatomia e à tradição renascentista. Como aponta o crítico Wilson Coutinho, Ferro se apropria de Michelangelo para dotá-lo de uma apreensão contemporânea. Assim, fragmenta a obra do mestre, deixando ausências, colocando no plano da tela um conjunto de procedimentos modernos para trazê-la como memória de uma imagem dispersa.
Nos quadros de Sérgio Ferro, o espaço é construído a partir de elementos gráficos e suas relações na tela. Como nota o crítico Fábio Magalhães, em muitos trabalhos, entretanto, a cor e a colagem intervêm de maneira definitiva, impondo uma nova organização espacial, sobrepondo-se à densidade do grafismo.

OBRAS








Bio
Sérgio Ferro Pereira (1938) é um pintor, desenhista, arquiteto, professor e crítico de arte. Na década de 1970, durante a ditadura militar, foi preso e exilado na França.
Biografia
Nascido em Curitiba, Paraná, cursou arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo (FAU/USP), em 1962. Sua pós-graduação, feita em 1965, foi em museologia e evolução urbana, também na FAU/USP. No mesmo ano, participou da organização da exposição Opinião 65, importante mostra feito pelo grupo Opinião apesar da Ditadura Militar, feito no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Em 1966, cursou semiologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na cidade de São Paulo. Foi professor, entre 1962 e 1968, na Escola de Formação Superior de Desenho; do curso de história da arte e de estética na FAU/USP, de 1962 a 1970; e do curso de arquitetura da Universidade de Brasília (UNB), entre 1969 e 1970.
Durante a década de 1960, junto dos arquitetos Rodrigo Lefèvre e Flávio Império, formou o grupo Arquitetura Nova, que propunha debates pautando a produção da arquitetura e o papel social do arquiteto. Após seu exílio em 1970, impossibilitado de atuar como arquiteto, lecionou na École Nationale Supérieure d’Architecture de Grenoble (Escola Nacional Superior de Arquitetura de Grenoble), de 1972 a 2003. Durante seu tempo na França, fundou o laboratório Dessin/Chantier, na mesma universidade, e o dirigiu de 1982 a 1997. Em 1987, recebeu o prêmio de melhor pintor da Associação Paulista de Críticos de Arte.
Ferro é famoso por sua atuação política, atuação essa que o levou a se exilar durante a ditadura militar. Notavelmente de esquerda, é famoso por dizer “Sou contra o termo antropoceno. O que está conduzindo o mundo ao desastre final é o capital”