Constança Lucas e Jacqueline Aronis
Setembro
2009

























29 de setembro a 07 de novembro de 2009
Jacqueline Aronis e Constança Lucas.
Gravuras, desenhos, poemas visuais e livros de artista.
Para Jacqueline.
Em Jacqueline Aronis, o sonho, consoante ao que vem anotado em inumeráveis páginas de muitos cadernos e diários, é o princípio de um desenho, ou dos desenhos, o desenho. Seqüentes às anotações, breves e íntimas, os desenhos, aquarelas e gravuras que se desenvolvem depois, do sonhado, preenchem delicadamente diversas folhas de papéis, perfazendo-se com distinção e definição gráfica de grão. Diferentemente das imagens que se acumulam nos cadernos, estas que circulam externamente, como autônomas, em avulsos destinados diretamente à mão, ao álbum, ou à parede, circunscrevem os signos de que se serve a sua obra ao longo de, pelo menos, vinte anos de produção. Assim, as árvores, as paisagens, o gato, o pássaro, o anjo, o ninho, mesmo uma página de um dos diários, na transposição para a gravura, saltam ao olho, em operação vertical, princípio da gravura calcográfica, fazendo do cavo no metal, aresta, no papel, a insinuar-se para a vista. Atenuam-lhe o efeito crispado, mas definidor do signo, porquanto gráfico, as meias-tintas na gravura, obtidas por meio da aplicação de mais de uma cor sobre a mesma placa, e também graças ao uso do rolete. Pelo que sei, é uma das poucas artistas gráficas em nosso meio que se utiliza deste instrumento com sabedoria parcimoniosa. As sombras macias realizadas por meio dele sugerem a ação direta sobre o suporte, tal como no desenho, onde se espraia o crayon, ou na aquarela, em que parte do pigmento também se encrespa, depois de migrado, durante a absorvência. A concentração da cor, nas bordas da poça d’água, própria da aquarela, de modo inverso, se produz no plano da imagem, em torno dos signos, como névoa de cor, de modo a lhes restituir, como informe, a sua origem, do desenho no sonho.
Luiz Armando Bagolin
Setembro 2009
Para Constança.
Há tempos Constança Lucas ventila os seus pequenos volantes pela cidade, e além. Chegam pelo correio ou pela mão da própria artista, pelas de seus amigos, figurando também em blog, uma vez que a entende, a poesia visual, como instância de partilha. Extensível ao cartaz, os mesmos poemas tomam simultaneamente a vista e a razão do vedor leitor, não o dispensando do envolvimento no humor da situação, ainda que breve. A leitura, velocíssima, compreende de um lance também a imagem, junto à palavra, tendendo o desenho à apropriação da mídia digital, e não o contrário. O seu mote são os vidrinhos, de tinta, perfume, comprimidos, temperos, também os potes, garrafas e jarros, que alegorizam o conteúdo, às vezes diretamente rotulado, outras, como preenchimento do vazio, como metáfora do campo destinado a ser ocupado pela boa palavra. Não é esta a de fé, ou de expressão de alguma moralia. A boa palavra para Constança é aquela que ao mesmo tempo é imagem e que suscita em nós a surpresa, ou melhor, o surpreendente. Advêm através de mensagens curtas, ou palavra que por si desimpede a nossa visão das coisas corriqueiras, ou daquelas que vemos e não vemos ao mesmo tempo. Assim se dá com “pecadinhos” ou “Sampa & LX: tinta permanente contém idéias passageiras”, ou “Poesia: use várias vezes ao dia”, etc. Admitidos como estampas, ligam-se às gravuras, perfiladas dentro de álbuns, que, por sua vez, também são remissivas aos livros de artista, os muitos, nos quais o tempo de leitura se amplia graças ao formato de codex e às sutilezas do desenho, a lápis de cor, crayon, extrato de nogueira e pena. Nestes, mais do que nos cartazes, ou de forma mais intensa, vê-se a palavra como procedimento do desenho e vice-versa, de sorte que o tema fundamental, para além dos temas que se multiplicam nesses livros, é o devir. Sendo imagem e palavra, quanto à escrita, formadas pela linha, é a ela que se dirige a longa série que também se expõe aqui, em linha, de árvores onde se aninham nomes de pássaros, mas também os primogênitos de nossa forma de dizer, “sim, mas, não”.
Luiz Armando Bagolin
Setembro 2009