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Futuros Vencidos

Agosto

2023

Futuros Vencidos é um percurso íntimo de Vinicius Libardoni, uma jornada que diz respeito ao êxodo territorial e sentimental do artista.

Nascido no interior do Paraná, formado em arquitetura em Florianópolis com passagem profissional por São Paulo, precisou se deslocar dez mil quilômetros para reconhecer na cidade polonesa de Wrocław, onde fez um mestrado em gravura, uma geografia que lhe fosse familiar.

Esta exposição é um relato gráfico de sua busca pessoal por reencontrar propósito em uma profissão que lhe parecia exaurida de sentido.

Longe de casa, Libardoni foi confrontado com uma realidade completamente nova que, de golpe, prendeu sua atenção.

Sua curiosidade, somada ao estranho hábito de caminhar olhando para cima, comum aos arquitetos, lhe aproximou daquelas novas velhas arquiteturas polonesas e o passado de influência alemã em ruínas, relíquias do Bloco de Leste, séculos distintos coexistindo e sobrepondo-se no mesmo espaço urbano.

Os edifícios que compõem esta série refletem o interesse latente pelo tema da ruína e da suspensão do tempo. Futuros que poderiam ter sido, mas que nunca chegarão a sê-lo, são as possibilidades nunca vividas ou, ainda, uma profecia de futuro que não poderá jamais existir.

Realizações gráficas que tratam de imprecisões temporais, retratos de um passado no tempo presente sem possibilidade de futuro. Os edifícios são aqui representados pelo arquiteto-gravador como ruínas em construção, arquiteturas que evocam um forte sentimento de nostalgia – a nostalgia do artista longe de casa.

Geografias sentimentais, os objetos de interesse de Libardoni podem ser entendidos como rugas no espaço-tempo.

Em seu livro A natureza do espaço, o geógrafo Milton Santos chama de rugosidade aquilo que fica do passado como “forma, espaço construído, paisagem, o que resta do processo de supressão, acumulação, superposição, com que as coisas se substituem e acumulam em todos os lugares”.

Tal qual a geografia do corpo, com suas dobras, fendas e asperezas, as rugas do território urbano são registros da passagem do tempo naquele lugar – cicatrizes que atestam presenças ausentes: o próprio passado no presente.

É significativo, ainda, que a técnica empregada pelo artista consista precisamente no ato de entalhar rugas no território da chapa metálica. Com a ponta-seca, risca, fende e texturiza a chapa, imprimindo-lhe rugas que, por sua vez, imprimem imagens de arquiteturas.

Quando partiu com destino a Wrocław, Vinicius Libardoni buscava se afastar da arquitetura e se aproximar da arte. Ironicamente, reconciliou-se com aquela através desta.

A grande virtude dessa escolha é que agora o artista-arquiteto projeta sem o fardo do tempo.

Suas arquiteturas não correm o risco de envelhecer.

(texto do artista)

O Artista

Natural de Pato Branco–PR, Vinicius Libadoni é arquiteto e artista plástico. Graduado Arquiteto e Urbanista pela UFSC em 2012, recebeu o título de Mestre em Belas Artes (MFA) com especialização em Gravura pela Academia de Arte e Design da Breslávia em 2019, onde recentemente concluiu também seu Doutorado em Artes com o título “Recasting Architecture: Etched Memories, Cast in Concrete”. Radicado na Polônia desde 2017, decidiu conscientemente afastar-se de sua prática profissional como arquiteto para dedicar-se inteiramente à arte da gravura em uma busca pessoal por reencontrar propósito em uma profissão que lhe parecia exaurida de sentido.

Através de seu posicionamento crítico ele nos convida a refletir sobre o papel do arquiteto como profissional autônomo na sociedade hoje. Em sua obra não-construída, o arquiteto se dedica a refletir sobre a atual condição

da arquitetura contemporânea, focando em estruturas esquecidas, abandonadas—suspensas entre as glórias do passado e as incertezas do futuro.

Sua formação como arquiteto desempenha um papel fundamental não apenas no conteúdo, mas sobretudo na forma como representa estes edifícios. Ainda assim, o seu universo gráfico está repleto de imprecisões temporais, retratos de um passado no tempo presente sem possibilidade de futuro.

Como ruínas em processo de construção, suas arquiteturas evocam um forte sentimento de nostalgia particular e íntima ao artista longe de casa. Refutando a todo custo a ideia de que o futuro lhes é inalcançável, estassólidas ruínas de tijolo e concreto se mostram total ou parcialmente suspensas, desprendidas da terra firme, desafiando a própria noção de gravidade. Existe aqui uma inversão fundamental da tectônica telúrica praticada desde a antiguidade, em que a arquitetura literalmente se apoia na terra; nessas gravuras, imensos edifícios são colocados num estado de suspensão material que, de algum modo, ecoa a suspensão do tempo evocada por suaspresenças na cidade de hoje.

Galeria Gravura Brasileira

Abertura – 05 de agosto de 2023, sábado, 13-17hs.

Período expositivo: 05 de agosto a 09 de setembro de 2023.

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