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Gravuras de Renata Basile

Abril

2005

RENATA BASILE DA SILVA.


Gravuras

A jovem artista Renata Basile da Silva  fará sua primeira individual na galeria Gravura Brasileira com gravuras em metal.
O trabalho da artista é marcado pelo uso de linhas e cortes profundos no metal.
As gravuras se combinam em inúmeras posições formando painéis e criando novas relações entre as imagens.

Exposição: De 28 de abril a 25 de junho de 2005.


Galeria Gravura Brasileira


Horários: segunda-feira a sexta-feira 10/18hs e sábado 11/15hs
Endereço: rua Fradique Coutinho, 953
Site: www.cantogravura.com.br
e-mail: gravbrasileira@uol.com.br
telefones: 11.3097.0301 e 3097.9193

textos sobre a artista:


O Primeiro e o Único
texto de Marco Andrade, 1988


O breve instante que separa a criação do ato criador é suficiente. A partir de
então, tudo muda, tudo flui. O universo estabelece seu espaço, e permite que o
fragmento nele se instale. Se a cultura humana age como uma força de ordem, a
entropia, entretanto, vem desarticular esse padrão, trazendo tudo e todos de volta
à desintegração original.
Esta exposição, em eixo de simetria com seu trabalho anterior, permite observar
duas possibilidades de atuação da arte contemporânea enquanto problematizadora
deste processo. Renata Basile articula e desarticula o ato criador, reconstruindo seu
potencial de formador de sentidos na dialética da cultura humana. Em ambos trabalhos,
encontramos Formas originais que, depois de multiplicadas ou alteradas, buscam alcançar
uma diferenciação e individualização em relação à matriz; anteriormente, pela posição
que ocupavam no espaço; agora, além disso, também pelas crescentes metamorfoses
causadas pela artista na placa ao longo de um certo tempo.
Renata Basile compõe padrões geométricos a partir de imagens que surgem da linha
orgânica gravada  em chapas de metal, que estabelecem uma articulação com seus pares.
Para isso, resgata os gestos primeiros: a curva, o ângulo reto, a estrutura radial.
Até então, o módulo se desdobrava, em seguida, com a escolha de algumas combinações
possíveis, com sua justaposição compondo tapetes, tótens, painéis, possibilitando uma
referência no mundo das artes decorativas, mas simultaneamente causando um estranhamento,
alinhando-se às propostas de vanguarda da op e minimal art, contudo, sem sua rigidez
extrema. Ordem, objetividade, dimensão, espaço, se referem, portanto, ao homem como
estruturador, construtor de sentidos únicos a partir do elemento mínimo, formador do código
sígnico.
Nos trabalhos de Renata Basile, espaço e tempo, o aqui e o agora, mostram-se condição
única do estar no mundo, mesmo para o objeto artístico. Pelo filtro da percepção humana,
e através do fenômeno material, a arte possibilita ao espectador um olhar outro para as
essências, conceitos e Formas do universo, verificadas como matrizes do pensamento e da
idéia. A dualidade cultura/natureza, em eterna luta, se equilibra, no momento em que a criatura
humana, mesmo julgando-se única, ordenadora, encontra no universo seu espelho, seu limite,
e procura se dissolver, na busca do ser primeiro e base do ato criador: um raio de luz em atrito à massa cinzenta.

texto de Evandro Carlos Jardim, abril 2005

Se apenas na aparência ,as gravuras de Renata Basile poderiam lembrar figuras semelhantes e tão usuais nas representações
com efeitos ópticos ou ainda aquelas do minimalismo aplicado às artes visuais,será bem possível que um olhar mais atento
à sua produção atual possa sugerir outro caminho ou direção para uma aproximação maior à sua gravura e às suas experiências
com a linha, ou seja, aquele que pela emoção e pelo instinto revela esta mesma linha em toda sua potencialidade, luz e lume
de todo o desenho.
Desenho, aqui configurado, no corte profundo sobre o metal, na matriz e na estampa, em conjuntos harmônicos contemplados
por uma geometria sensível e adequada aos pressupostos gráficos que os anima.
Nesta gravura, despida de excessos artesanais e dos exageros da técnica, sóbria e realizada com uma extraordinária economia
de meios, Renata reinventa esta mesma linha a cada momento, como testemunho verdadeiro de sua experiência e desta
potencialidade, própria de um desenho – desígnio - e de uma consideração ao objeto contemplado.

O ENCONTRO DA SIMETRIA


texto de Henrique Marques-Samyn


Afirmar que obra de arte alguma pode prescindir da necessidade é dizer o óbvio, dado que apenas através da forma a verdadeira criação artística encontra seu sentido; não obstante, essa (ingênua) afirmação parece-me constituir um bom ponto de partida para empreender uma reflexão sobre as gravuras de Renata Basile, justamente por ser ela a autora de uma obra que enfatiza e explicita esse princípio elementar do legítimo labor artístico. Utilizando a linha como elemento fundamental para a construção de delicadas tramas, Renata mantém-se à distância de quaisquer contingências e lavra a beleza por meio de uma absoluta precisão, sem que isso jamais implique um formalismo estéril: em suas gravuras, nada há que não tenda para a mais vigorosa intenção artística.

Algo particularmente notável nas gravuras de Renata Basile é sua recusa de toda previsibilidade. Os elaborados arranjos visuais por ela explorados não denunciam, em momento algum, a busca pelo que poderíamos considerar mais fácil ou evidente; é por isso que sua obra não padece da repetição de padrões tão comum a diversos artistas que apresentam propostas estéticas similares. Por outro lado, o que disso resulta é uma tendência experimentalista que, por meio de mudanças na construção das  tramas ou na utilização de cores de fundo, concede às gravuras um raro dinamismo, o que também deve ser atribuído à sua freqüente pesquisa de composições que de modos vários impliquem tensões visuais centrífugas e centrípetas. Renata, contudo,

tem o mérito de jamais ultrapassar os limites impostos pela estrutura interna da própria obra: essa atitude – que manifesta,  na verdade, um profundo respeito pela integridade do objeto artístico – reflete-se no refinado equilíbrio invariavelmente alçado, em que é mínima a presença de uma subjetividade criadora que deseje impor-se a qualquer custo; trata-se antes de erigir um preito à beleza, gesto em que se entrevê uma intenção dupla, simultanemente ética e estética.

Há um ensaio menos conhecido de Kandinsky, intitulado “Conteúdo e forma”, que foi publicado em 1910-1911 no catálogo de uma exposição organizada pelo escultor russo Vladimir Izdebsky; nesse texto, o grande pintor e teórico desenvolve algumas idéias  que seriam mais tarde aprofundadas em “Sobre o espiritual na arte”. Kandinsky reflete no mencionado ensaio sobre como a forma (concreta), constituindo a expressão material de um conteúdo abstrato, será tão mais bela quanto melhor corresponder ao seu conteúdo interior (abstrato), conquanto reconheça haver aí um ideal irrealizável; ponderação que conclui observando que, em essência, a única lei invariável da arte é o princípio da necessidade interna. Nas gravuras de Renata Basile, vislumbramos uma profunda percepção desse preceito: sem que necessitemos recorrer a qualquer espécie de dualismo, basta observar que nelas a forma se exerce de maneira absoluta no espaço da obra; e mesmo a  imprevisibilidade, presente nas mínimas dissimetrias que jamais violam o equilíbrio soberano, emerge como algo nunca contingente.

É intrínseca à percepção humana a busca pela regularidade, por padrões de fechamento que ofereçam maior conforto visual.

Por jogar com as tênues possibilidades de fuga dessa tendência sem, no entanto, perder de vista o equilíbrio necessário para  a obtenção dos efeitos estéticos que caracterizam a obra artística, Renata Basile cria gravuras que enlevam e aprazem pelo que encerram de imprevisível dentro de uma rigorosa estruturação formal. Trata-se de uma obra desprovida de quaisquer excessos, ornamentos e artificialismos; uma obra que, em outras palavras, caracteriza-se por sua economia e precisão, graças a que se efetiva sempre límpida para o olhar e bela para o sentir.

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