Buarquianas
Maio
2026
Buarquianas
gravuras de Márcio Périgo
09 de maio a 20 de junho de 2026
A proposta que agora faço a Galeria Gravura Brasileira é de uma suíte de 60 imagens em gravura em metal intituladas de "Buarquianas", nome derivado de um bairro da cidade de São Paulo/Brasil.
"Vila Buarque", local onde resido e possuo atelier e também referência ao título "Bachianas brasileiras", que é uma série de nove composições musicais escritas a partir de 1930, do compositor erudito Heitor Villa-Lobos escritas em homenagem a J. S. Bach, que se transformaram num dos marcos do nosso nacionalismo musical.
As imagens, com formações diversas nesta série, fazem menção às portas e janelas, aos edifícios de uma metrópole e aos espaços circundantes.
texto do artista
agosto 2025
Andar e observar. Márcio Périgo traça caminhos pelas ruas e praças da Vila Buarque no centro da cidade de São Paulo. Périgo incorpora em suas “Buarquianas” os reflexos, sombras, frestas, rachaduras, planos e fachadas dos edifícios, ruas e calçadas - a cidade em toda a sua beleza e feiura.
O artista parece procurar uma ordem, uma identidade, pistas, nuances e sutilezas no caos urbano. Da gravação na placa de cobre, as imagens se transmutam em formas que se repetem, mas sempre com pequenas variações. Os temas se sobrepõem e se somam criando espaços, transparências, vibrações e ritmos. Estruturam-se em movimentos como nas Bachianas de Villa-Lobos, referência central do artista na execução desta série.
Na sutil delicadeza dos grãos da água-tinta repousam a fuligem e a terra desta metrópole de concreto. O branco é raro - meros filetes que resistem entre os pretos, cinzas, ocres e marrons. A técnica refinada está a serviço da criação tornando visível aos olhos do espectador essa luz esguia, quase escondida.
O véu negro da água-tinta cria uma veladura, lembrando, por vezes, uma cortina de tecido como se evocasse o olhar do artista através da janela do seu ateliê. As obras, sempre em formato vertical, aludem à altura dos prédios, às esquadrias, aos telhados e às gotas de chuva que escorrem lentamente pelos vidros.
Neste desfiladeiro de construções a luz entra em diagonais como raios traçados na dureza do buril e na placidez da água-tinta.
Eduardo Besen
Agosto 2025
currículo
Márcio Périgo
São Paulo, 1949
Iniciou seu trabalho em gravura em metal na Fundação Armando Álvares Penteado, em 1972, como matéria curricular com Evandro Carlos Jardim no curso de graduação em Comunicação Visual. Em 1977 obteve o título de Bacharel em Comunicação Visual, quando apresentou um painel voltado a um estudo gráfico da obra Grande Sertão-Veredas, de João Guimarães Rosa. Obteve o título de mestre na área de Poéticas Visuais em 2001, com a dissertação A Matéria da Sombra e em 2009 o título de doutor apresentando a tese Caos Aparente – Sinais gráficos na Universidade Estadual de Campinas UNICAMP.
Desenvolve seu trabalho na área da gravura. Esta produção artística trata principalmente de questões matéricas, construtivas e espaciais, através dos procedimentos de desenho, pintura, gravura e objetos escultóricos, que utiliza na investigação da construção das imagens nas representações bidimensionais do espaço.
Participa de exposições desde 1972 quando realizou com uma equipe, na 6ª Jovem Arte Contemporânea no MAC/USP, um trabalho intitulado de “A Porta”, baseado em um conto de Aldous Huxley.
No ano de 1974 realizou uma viagem de estudos nos Andes, onde pesquisou a paisagem e seu entorno com desenhos que se tornaram significantes em seu trabalho em gravura até os anos 1980. Seu entendimento dessa experiência foi que o desenho de uma linha, ao definir um espaço, não deve ser mais denso que o próprio espaço.
Em 1975 participou do 1° Salão Universitário de Artes Plásticas no Museu de Arte Brasileira/FAAP. Paralelo a sua atividade profissional em programação visual, dedicou-se no ano de 1976 a apresentar trabalhos em salões de arte em São Paulo e Rio de Janeiro.
Realizou sua primeira exposição individual em 1977, no MASP, expondo gravuras e desenhos. No mesmo ano participou das exposições coletivas: Gravura no Centro ampestre SESC em São Paulo e V Salão de Arte Jovem no CCBEUA em Santos, SP.
Em 1978 participou do I Salão Nacional Universitário de Artes Plásticas, ganhando prêmio aquisição, no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, promovido pela FUNART e do II Leilão de Arte promovido pela Galeria Irineu Ângulo. Ainda em 1978, com um grupo de artistas atuantes no mercado, fundou uma cooperativa de artistas plásticos e participou da exposição Papéis e Cia., no Paço das Artes em São Paulo e, em 1979, da exposição Artistas da Cooperativa realizada na Pinacoteca do Estado.
A primeira participação com trabalhos no exterior foi no ano de 1979. Em Mendonza, Argentina na Mostra de Grabadores Brasileños.
No ano de 1982 participou da V Mostra Anual de Gravuras em Curitiba, PR. E no ano de 1984 realizou exposição individual no Centro Cultural São Paulo com gravuras, desenhos, objetos e fotos dos processos de gravação.
Desde então vem realizando exposições individuais e participando de salões e coletivas no Brasil e exterior. Destacando entre elas, sua primeira exposição individual fora do Estado de São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro, na Galeria Estampa, em 1985, quando lançou um álbum com 13 gravuras em metal, com apresentação do colecionador e bibliógrafo José E. Mindlin.
Participou de importantes mostras com gravuras, na International Art in New York, USA, La Jeune Gravure Contemporaine, no Grand Palais de Champs Elisées em Paris, França, 17ª Biennale Internationale de Gravure na Moderna Galerija em Liubliana, antiga Iugoslávia, Centro Internazionale della Gráfica em Veneza, Itália. Em 1989, da 18ª Bienalle Internazionale novamente em Liubliana, 2ª Bienal de Gravura de Amadora, Portugal e de uma exposição coletiva no Museu de la Estampa da cidade do México, em 1990.
Em 1982 seu interesse pela gravura e marcenaria o levaram a construção de uma prensa de madeira com características seiscentistas, para impressões de gravuras em metal e em 1992 uma outra prensa, também de mdeira, para impressão de caracteres móveis na Oficina Cultural do Brás. Estas prensas, junto com as de outros gravadores, foram expostas em exposição individual em 1996, no Espaço Eugéne Villen. Em l997 executou um mural em afresco e técnica mista com 84,0 m2 para o SENAC/Itaquera, SP.
Doou para o acervo das instituições: MAC/USP, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro e Fundação Cultural de Curitiba conjuntos de 80 gravuras em metal originais intitulado Caos Aparente, editados graças à aquisição de uma bolsa da Fundação Vitae em 1989 e expostas no Gabinete de Raquel Arnaud no mesmo ano e na Estação Pinacoteca do Estado de São Paulo de março de 2005 a março de 2006.
Iniciou sua atividade didática no ano de 1978 na Associação Pedagógica Rudolf Steiner, no ano de 1984 organizou um atelier para aulas de desenho, gravura e com a artista plástica Virginia Artigas e o arquiteto e professor João Batista Vilanova Artigas. Dirigiu grupos de trabalhos voltados à história da gravura e aos procedimentos técnicos, na Casa da Gravura de Curitiba PR, em 1979, no XX Festival de Inverno da UFMG, em Poços de Caldas, em 1.988, no Paço das Artes em São Paulo, de 1990 a 1991, na Oficina Cultural do Brás em São Paulo, em 1991 e 1992 e no Museu de Arte Contemporânea/USP de 1991 a 1993.
Foi professor titular de 1981 até 1985 na FAAM/FMU, na Faculdade Santa Marcelina de 1993 até 1999, na UNIP Arquitetura de 1996 até 1998 e na FAU/Mackenzie de 1995 até 2014.
Atualmente é professor desde 2002 de Práticas de Oficina e Gravuras no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas e participa como membro do Conselho do Centro de Pesquisa em Gravura, coordenador da GAIA Galeria de Artes do Instituto de Artes da Unicamp e orienta trabalhos de artes visuais na pós-graduação. Ultimamente tem participado de mostras coletivas e destacando algumas individuais: Marcio Périgo Obra Gráfica na Caixa Cultural SP em 2012, Mapa dos Apagamentos no Espaço 1338 em 2018, Desenhos na Graphias Casa da Gravura em 2023 e coletiva no 15° Salão Bunkio.