SOBRE
DESENHOS DE ILUSTRAÇÃO
A relação entre imagem e texto deveria a princípio manter certa afinidade. A imagem, intuímos, deve corresponder ao discurso. Ilustrações seriam condensações visuais, ícones quase emblemáticos dos textos. Mas a correspondência entre palavras e imagens não é fácil de ser resolvida, é subjetiva e, às vezes, pode ser surpreendentemente vaga. Existem momentos em que a liberdade no registro dos traços gráficos permite ampliações do texto, adicionando elementos que a escrita deixou em branco. Cor, sabor e forma são qualidades que não exigem nenhuma lógica ou exercício dedutivo. Ao interligar os elementos, o artista promove uma oscilação permanente, e mesmo quando o desenho encena uma simetria, a agitação das figuras não as deixa se acomodarem. O conjunto das ilustrações compõe com toda sua obra uma consonância em que as imagens se aproximam de um mundo percebido de modo subjacente. A digressão que as ilustrações de Alex Cerveny perfaz é imprevisível, e a relação pode se esgarçar: por vezes parece não haver nenhuma lógica ou raciocínio dedutivo, nenhum esforço em ligar imagem e texto. São traços inevitavelmente impregnados da visualidade contemporânea, que mesclam às nossas memórias a intervenção incessante das mídias: da TV e do cinema à internet. A técnica é apurada, melhor, as técnicas... porque para Cerveny o prazer está na experimentação de técnicas e materiais: aquarela, desenho, gravura, escultura, pintura, colagem. Sua criatividade incorpora registros da infância e outros da cultura erudita e popular. A singeleza aparente dessas pequenas imagens ilude: elas são soberanas e se impõem com firmeza e impacto. Por vezes se aglomeram e criam um corpo a corpo entre si, rebatendo o esforço de digerir o que não é digestível. Em outras ocasiões parecem sequer se confrontar, mais se esquivam umas das outras, como se não quisessem se resolver. Atestam os sentidos não “digeridos” da nossa cultura, negando o caráter simplista que a obra poderia passar. Na verdade são imagens pulsantes, que não se apaziguam, mas ativam percepções e levantam questões essenciais, que seduzem para tentar compreender. Ainda que diversas figurações sejam recorrentes – como torções, chamas de fogo com quatro, cinco ou seis pontas, homens ou animais com cabeça de martelo, referências mitológicas ou à história da arte, cataclismos da natureza – não dá para falar em repertório, porque o vento sopra e as imagens se transformam. O que era originalmente lembrança da experiência do contorcionista de circo, “nos meus vinte e pouquinhos anos, quando eu era ‘Elvis Elástico, o homem de plástico. Essa aventura durou ao todo uns dois anos, primeiro no circo-escola, depois num circo de periferia e em apresentações esporádicas... meu dia de maior ‘glória’ circense foi me apresentar num estádio para umas 3.000 crianças antes da chegada do Papai Noel em Cotia. Momentos inglórios, foram vários. Meu show não tinha nada da estética ‘Cirque du soleil’... era bem brega mesmo!” ou, de origem mais remota ainda, a lembrança da acácia retorcida na praça de Nova Granada -interior paulista, onde viviam os avós- transmuda-se e multiplica-se em torções de membros, de outras árvores, de coisas. Ou ainda em arabescos líricos. A vocação do artista se abastece de uma visão amplificada da cultura – que não é limitada às sugestões do texto ou a paradigmas auto-referenciais – e de sua atitude ética e estética: as ilustrações são portadoras de valores que contam não necessariamente coisas novas, mas as de hoje e as de ontem, através de um modo antigo, e ao mesmo tempo novo de olhar as coisas. Indaga com rigor, mas também com paixão e com humor sobre as experiências cotidianas em meio às conturbações do mundo.
Stella Teixeira de Barros, julho 2005

OBRAS






Sobre
Alex Červený (1963) nasceu e trabalha em São Paulo, Brasil. De formação independente, sua trajetória artística é originária do desenho e da gravura, desdobrando-se posteriormente na pintura, cerâmica e bronze. Suas obras evocam um universo fantástico e exploram uma iconografia que articula referências históricas, cultura cotidiana e memórias pessoais. Associadas ao rigor técnico e ao prazer do fazer artístico, a representação do corpo, a escrita e a construção de narrativas têm centralidade em sua produção.
Červený participou da 21ª Bienal de São Paulo em 1991, e, mais recentemente, expôs em mostras na Fondation Cartier pour l'art contemporain, Triennale Milano, La Galleria Nazionale, Biennale of Sydney e Power Station of Art. Em 2023, realizou a exposição individual Mirabilia na Pinacoteca de São Paulo, que reuniu mais de 100 obras criadas durante seus 40 anos de carreira.
Sua obra pertence às coleções da Fondation Cartier pour l'art contemporain, Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte do Rio, Coleção de Arte da Cidade, Fundação Iberê Camargo, Tamarind Institute, entre outros.
Alex Červený é representado pela Millan, em São Paulo.
INFORMAÇÕES
Currículo
Coleções
Fondation Cartier pour l'art contemporain, Paris, França
Pinacoteca de São Paulo, São Paulo, Brasil
Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil
Coleção de Arte da Cidade, São Paulo, Brasil
Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, Brasil
Tamarind Institute, Albuquerque, New Mexico, EUA
Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba, Brasil
Itaú Cultural, São Paulo, Brasil
Coleção Santander, São Paulo, Brasil
SESC, São Paulo, Brasil
Premiações
2015
Edital Proac Livro de Artista, O desenho visto do céu
Prêmio Jabuti – Ilustração, 3º lugar, Labirinto, Beatriz Di Giorgi, Editora Laranja Original
2014
Prêmio Jabuti – Ilustração, 3º lugar, Decameron, Giovanni Boccaccio, org. Maurício Santana Dias, Cosac Naify
2012
Prêmio FUNARTE Marcantonio Vilaça, Pinóquio – 64 originais de Alex Cerveny
1995
Prêmio Aquisição Price Waterhouse do Brasil, Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil
1991
Prêmio Secretaria de Estado da Cultura, XXI Bienal Internacional de São Paulo, São Paulo, Brasil
1988
Prêmio Credicard, Salão Paulista de Arte Contemporânea, São Paulo, Brasil
1986
Grande Prêmio Cidade de Curitiba, Mostra da Gravura Cidade de Curitiba, Curitiba, Brasil
1985
Prêmio Aquisição, 42º Salão Paranaense, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba, Brasil
1982
Prêmio Aquisição, 1º Salão Paulista de Arte Contemporânea, Fundação Bienal, São Paulo, Brasil
Prêmio Aquisição, 1º Salão de Artistas Novíssimos de São Bernardo do Campo, Brasil
Prêmio Aquisição, X Salão dos Novos, Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, Recife, Brasil
Bolsas, Residências Artísticas e Viagens de Estudo
2014
Expedição à Serra do Amolar, residência artística na Fazenda Santa Tereza, Baía Vermelha, Corumbá, Brasil
2012
Ateliê de gravura da Fundação Iberê Camargo, artista convidado, Porto Alegre, Brasil
Tamarind Institute, artista convidado, New Mexico University, Albuquerque, EUA
2011
8ª expedição para Nasca, Asociación Maria Reiche, HTW Dresden, Alemanha
2010
7ª expedição para Nasca, Asociación Maria Reiche, HTW Dresden, Alemanha
2006
Simpósio Nasca-Paracas, ZIF – Universität Bielefeld, Alemanha
Residência artística, Kätelhön Druckgrafik, Möhnesee, Alemanha
2005
5ª expedição para Nasca, Asociación Maria Reiche, HTW Dresden, Alemanha
1994
Tamarind Institute, artista convidado, New Mexico University, Albuquerque, EUA
Formação
1989
Ateliê livre de gravura, Museu Lasar Segall, São Paulo, Brasil
1982–1988
Aquarela, têmpera, gravura em metal e técnicas de impressão com Selma D'Affre, São Paulo, Brasil
1984–1985
Artes Circenses, Circo Escola Picadeiro, São Paulo, Brasil
1982
Curso livre de litografia com Odair Magalhães, Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil
1978–1982
Desenho e pintura com Valdir Sarubbi, São Paulo, Brasil
Atividades Didáticas
2024
Oficina de aquarela para alunos do Senac Lapa Scipião, São Paulo, Brasil
2018
Palestra para participantes do curso de literatura infanto juvenil, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil
Atelier livre de aquarela, especialista convidado, IA-UNICAMP, Campinas, Brasil
2017
Palestra para participantes do curso de literatura infanto juvenil, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil
2016
Curso de especialização Arte na educação: teoria e prática, ECA-USP, São Paulo, Brasil
2008
Curso livre de artes, Escola São Paulo, São Paulo, Brasil
2007
Oficina de pintura mural para diretores e supervisores, Programa Escola que Vale, Parauapebas, Brasil
Oficina de têmpera ovo para professoras, Vassouras, Brasil
2006
Oficina de pintura mural e estamparia para professores, diretores e alunos, Programa Escola que Vale, Arari, Brasil
Oficina de estamparia em tecidos para professores, Programa Escola que Vale, Barão de Cocais, Brasil
Oficina de criatividade, Festival de Inverno de Diamantina, Brasil
2005
Oficina de artes para alunos e professores, Programa Escola que Vale, Ipixuna do Pará, Canaã de Ipixuna e Fortalezinha, Brasil
Oficinas para professores, Projeto Votorantim, Paulistas, Brasil
Oficina de Criatividade, Festival de Inverno de Diamantina, Brasil
2004
Oficina de história da arte e materiais para professores, Programa Escola que Vale, Governador Valadares, Brasil
Oficina de iniciação gráfica para professores da zona rural de Paraty, Brasil
Oficina de artes para professores das rede pública paulistana, CEU Jaraguá, São Paulo, Brasil
Oficina de teatro de bonecos com professores da zona rural de Canaã dos Carajás, Programa Escola que Vale, Brasil
Oficina de pintura para professores de artes, FUNDHAS, São José dos Campos, Brasil
Professor de história da arte do projeto Chamex de arte para professores, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil
2003
Oficina de ilustração, FLIP, Paraty, Brasil
Oficina de pintura mural e estamparia para professores, Programa Escola que Vale, Curionópolis, Brasil
Oficina de aperfeiçoamento gráfico para professores, Programa Escola que Vale, Canaã dos Carajás, Serra Pelada e Eldorado dos Carajás, Brasil
Oficina de história da arte e materiais para professores, Programa Escola que Vale, Catas Altas, Brasil
Oficina de ilustração de livros e de observação do desenho da criança para professores, Programa Escola que Vale, João Neiva, Brasil
2002
Oficina de criatividade para professores, Programa Escola que Vale, São Luís, Brasil
Oficina de desenho e ilustração para o projeto O desenho e seus papéis, SESC Pompeia, São Paulo, Brasil
Oficina de brinquedos artesanais e pintura mural, Programa Escola que Vale, Canaã de Ipixuna, Brasil
2001
Oficina de giz pastel artesanal, Programa Escola que Vale, Barcarena e Canaã, Brasil
Oficina de desenho e pintura, Programa Escola que Vale, Açailândia e Parauapebas, Brasil
2000
Semana de artes da FAAP, artista palestrante convidado, São Paulo, Brasil
1999
Curso de design de mobiliário, SENAC, São Paulo, Brasil
1998
Oficina de desenho livre, Projeto Arte em Movimento, SESC Pompeia, São Paulo, Brasil
1997
Atelier de desenho livre, Casa do Olhar, Santo André, Brasil
1994–1996
Oficina de artes e história da arte, Colégio Logos, São Paulo, Brasil
1993–1994
Atelier de pintura, Casa do Olhar, Santo André, Brasil
1987–1989
Atelier de gravura em metal, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil
1985–1986
Atelier de gravura em metal, Paço das Artes, São Paulo, Brasil