SOBRE
Em 2000, Cris Rocha veio de Porto Alegre para São Paulo, trazendo na bagagem o que pôde salvar de seu currículo de jovem artista: entre pinturas e gravuras, vieram tiras de papel contendo longas sequências de pequenas imagens gravadas em metal semelhantes a fotogramas de um filme. Quase vinte anos depois, essas miniaturas saíram da gaveta, dando origem a uma série de trabalhos altamente sofisticados. A recuperação desse material se deu em fase de intensa experimentação em que a artista, atraída pelos novos meios de produção de imagens, passou a usar recursos digitais na constituição de suas obras.
Nos anos de formação, Cris oscilou entre gravura e pintura até que a gravação em metal se impôs como disciplina e fundamento de sua criação. Entretanto, o gosto pelo pictórico permaneceu em sua obra gráfica e nos trabalhos mais recentes cuja fatura incorpora tecnologia digital.
Para Cris, a gravura deixou de ser produto final e se converteu em signo inaugural de um processo criativo que inclui a combinação, o tratamento e a impressão de imagens digitais. Para entender melhor como procede, basta observar o que acontece com as miniaturas: cada uma delas gera um registro digital passível de ser manipulado eletronicamente.
Como se sabe, a exploração virtual abre para uma infinidade de caminhos. Diante de tantas opções e da necessidade de fazer escolhas, os artistas, muito frequentemente, se deixam guiar pela sensibilidade poética em suas decisões. Cris não faz diferente. Suas composições – notáveis pelo lirismo – não revelam de imediato que tudo nelas é digitalmente controlado.
Em algumas séries, linhas ondulantes e manchas difusas sugerem paisagens aquáticas. Trata-se de um mundo de formas sinuosas, de reflexos e transparências, de um mundo regido pela luz. Algumas dessas imagens evocam o alvorecer à beira de um rio, quando a luz invernal deixa entrever os delicados capins que afloram na superfície d’água. Nada perturba a quietude da manhã…
A impressão que se tem é de que a artista partiu da observação da natureza. Mas não. Essa plasticidade luminosa decorre da combinação de fundos de cor obtidos por gravações em água-tinta e lavis aos quais se sobrepõem traços enérgicos gravados à ponta-seca e água-forte sobre chapas de metal. Os cortes, ampliações e fusões necessários para produção dessas imagens são operados por profissionais da informática, sob orientação da artista. O que temos não são paisagens, representações da natureza, e sim, os resultados de uma poética em construção.
MARIA ALICE MILLIET “Cris Rocha: da gravura e alé, 2017

OBRAS

























Bio
Nasceu em Porto Alegre em 1967, vive em São Paulo desde 2000. Formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1992.
Nos anos 80 estudou pintura e gravura em Porto Alegre com Maria Tomaselli e Anico Herskovits , e em São Paulo, com Paulo Pasta e Claudio Mubarac, respectivamente. Nos anos 90, vivendo em Buenos Aires e novamente Porto Alegre, trabalhou no Museo del Grabado e na Fundação Iberê Camargo, com Eduardo Haesbaert.
Tem seu atelier em São Paulo onde recebeu orientação de Evandro Carlos Jardim e Ernesto Bonato, participando de vários projetos na área da gravura, tais como o “Projeto Lambe-lambe”. Em 2010 coordenou workshop de gravura no SESC Pompéia, em 2012 e 2014, oficinas na Chapel School em São Paulo, SP. Desde 2013 frequenta o curso do Paulo Pasta, “pintura: prática e reflexão” no Instituto Tomie Ohtake.
INFORMAÇÕES
A gravura de Cris, alimentada ao mesmo tempo pelo expressionismo e a abstração, traduz uma energia vital contida pela linha. As linhas sobem ao encontro da gravidade.
As linhas vão e interrompem-se numa dinâmica contraditória de concentração e de dispersão.
As linhas afastam-se ou unem-se em formas densas, à procura de um preto orgânico.
Esta energia portadora de vida tem as formas indecisas da vida. Uma gota surge do teto, de um constrangimento ou um sonho. Um fragmento de trama hesita, bifurca e sai do quadro deixando filtrar a luz entre as suas bordas.
Massas sobrepõem-se em redor de uma fenda, como um esquecimento no meio de lembranças obsessivas. Uma palavra não formulada.
ANNE LOUYOT “O céu não tem beiras”, 2010
Exposições
Principais exposições individuais: “Passos que imaginei” na Galeria Gravura em 2000, “Funil” na Galeria Bolsa de Arte em 2004 em Porto Alegre e “da gravura e além” na Galeria Arteedições em 2017 em São Paulo.
Principais exposições coletivas: “Água, paisagem alterada” no Centro Brasileiro Britânico em São Paulo e no Museu de Arte do Rio Grande do Sul em Porto Alegre em 2016; “Gravando” no MAC-RS em Porto Alegre e “Em busca do sentido” na Galeria Arterix em São Paulo em 2012; “Territórios sem fronteiras”, no Contraponto, “O que é uma gravura?” no Espaço Atelier e “Travessia Gráfica” SP Estampa, na Galeria Gravura Brasileira em São Paulo em 2011; “O céu não tem beiras” na Galeria Gravura Brasileira em São Paulo em 2010; “Recortes, colagens e adesivos na Casa das Onze Janelas, Belém e “Em branco” na Galeria Referência em Brasília em 2008; “Em branco” no Palácio das Artes em Belo Horizonte em 2006; “Em branco” na Galeria Bolsa de Arte em Porto Alegre em 2004. Tem obras em coleções públicas, como Bibliotheca Alexandrina, Alexandria, Egito; Museo Del Grabado, Buenos Aires, Argentina; Museu Casa das Onze Janelas, em Belém; Museu de Arte Contemporânea do RS, Porto Alegre; Museu de Arte do RS, Porto Alegre, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil, entre outras.