top of page
SOBRE

Silvio Dworecki nasceu e trabalha em São Paulo. No início de sua carreira nas artes visuais participa da IX Bienal de São Paulo na mesma sala de Nelson Leirner e Tereza Nazar. Antes disso ganha o Prêmio de Pintura do 1º Salão de Arte Contemporânea de Campinas. Sucedem-se individuais no Museu de Arte de São Paulo, Pinacoteca do Estado e na histórica Paulo Figueiredo Galeria de Arte, dentre outras. É arquiteto formado pela FAU USP, onde lecionou e se tornou Mestre, Doutor e Livre Docente. Publica “Camadas de Tempo-30 anos nas Artes Plásticas” com texto crítico de Agnaldo Farias e “Em busca do traço perdido” com o método que criou para o ensino das artes visuais.

DwoRecki
SOBRE
OBRAS
OBRAS
EDU, CV, EXTRAS
Bio

Pintor, cenógrafo, professor.

Silvio Melcer Dworecki, ingressa no curso de artes plásticas e história da arte da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) em 1964. Em 1967, expõe na 9a Bienal Internacional de São Paulo. Em 1969, prepara-se para o ingresso na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) com aulas de Antonio Benettazzo, Luiz Paulo Baravelli (1942) e Carlos Fajardo (1941). Cursa a FAU/USP entre 1970 e 1974. Apresenta na conclusão do curso trabalho sobre Ensino e Desenho, sob orientação de Flávio Motta (1916). Paralelamente à sua atividade artística, dedica-se ao ensino de arte, fundando em 1973 a escola de arte Jogo Estúdio com Eugênia Theresa de Andrade e lecionando o Primeiro Curso Livre de Artes Plásticas no Museu Lasar Segall, no qual inicia seu método de ensino, Desinibição do traço. Leciona, a partir de 1977, na Escola de Artes Plásticas da Faap e na área de Programação Visual da FAU/USP. No ano seguinte freqüenta aulas de Suanê e Nelson Nóbrega (1900-1997) (desenho e pintura) e Evandro Carlos Jardim (1935) (gravura). Apresenta a dissertação de mestrado Ensino e Desenho, na FAU/USP, sob a orientação de Élide Monzéglio, em 1984. Realiza a cenografia do espetáculo A Casa de Bernarda Alba, dirigido por Eugênia Thereza de Andrade em 1985, pela qual recebe o Prêmio Cenógrafo Revelação da APCA. Em 1992, expõe Ventos de Luz, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). Dois anos depois, apresenta a tese de doutorado Do olho à mão: um método para o ensino das artes plásticas na FAU/USP, sob a orientação de Lucrécia D'Aléssio Ferrara. No mesmo ano é nomeado presidente da Associação de Educadores do Estado de São Paulo. Passa a integrar o Conselho Consultivo da Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pesp) em 1995.

INFORMAÇÕES
texto crítico

O eixo

A arte comporta a capacidade de criar situações em que a realidade passa a ser vista com outros olhos. É justamente isso o que ocorre com o trabalho de Silvio Dworecki. Ao longo de sua trajetória, existem algumas permanências que vão conformando uma interpretação visual.
Uma dessas marcas está na presença de linhas verticais que auxiliam na composição das imagens e estabelecem um mundo caracterizado pela construção de obras que se distinguem por uma pesquisa de materiais que o acompanha desde o início da carreira, enriquecida pelo diálogo com mestres com Mario Schenberg e Flavio Motta.
  Na série denominada Eixo aparecem questões fundamentais de sua poética, que inclui, por exemplo, o uso de pigmentos e cinzas diretamente depositadas sobre a tela sem o uso do pincel. Existe nesse processo a convicção de ver a arte como um campo em que  busca é um absoluto constante.
A fascinação pelas cinzas provém de um histórico familiar, que remete à experiência dos pais, judeus poloneses que vivenciaram a Segunda Guerra na Europa, marcada pela destruição dos bombardeios, escapando da perseguição nazista. Essas imagens das ruínas e do poder do fogo o encantaram.
O resultado plástico não se dá apenas sobre a tela, mas envolve também a criação de livros de artista com papel queimado. Cada um deles é absolutamente único, pois a maneira do fogo interagir com o material ganha as mais diversas expressões, numa espécie de caleidoscópio de formas e nuances cromáticas delicadas.
  Essa mesma solenidade, numa atmosfera densa, se faz presente em cadernos sobre o 11 de setembro de 2001. Páginas de notícias de jornal a respeito do atentado são colocadas em envelopes plásticos com carborundum. Resulta daí um efeito sonoro ao virar as páginas e a incômoda presença das cinzas que remetem ao fato histórico.
O trabalho com cimento, que endurece e cristaliza o efêmero torna-se ainda um exercício de congelar o tempo. O instante surge onipresente com os mencionados eixos e incisões, literais, no sentido do que se realiza numa placa de gravura, ou gráficas, como na pintura e na monotipia.
A discussão que Dworecki instaura é a do encantamento do fazer. As cinzas são ruínas da civilização, mas, ao mesmo tempo, numa das versões do mito grego da criação do ser humano, é delas – onde estavam o lado divino de Zagreu, filho de Zeus, e dos titãs que haviam devorado esse primeiro Dionísio – que Prometeu molda o homem.
O ser humano pode então ser considerado uma mescla da divindade primordial com o aspecto irascível dos titãs. Nesse sentido, a obra plástica do artista paulistano traz um poder demiúrgico, mesmo em trabalhos mais recentes, quando o eixo é deslocado e curvado, ele se faz presente como uma referência, mesmo que exista para ser destruída.
Cinzas, pigmentos e verticalidade compõem um universo arrojado. O percurso é complementado pelas experimentações editadas em cadernos e pelas monotipias realizadas sobre papéis vegetais coloridos. O conjunto formado traz à tona um artista digno desse nome, revelador de um pensar sobre a vida e sobre o próprio fazer da arte.

Oscar d´Ambrosio

bottom of page