SOBRE
Pintora, papeleira e gravadora, Eliana Anghinah Raicher possui em seu currículo diversos trabalhos no mundo das artes plásticas desde a década de 1970.
Nascida na cidade de São Paulo, Eliana encontrou na natureza a matéria-prima para a sua arte. Ela considera como uma de suas prioridades a utilização do papel como linguagem artística. Teve como uma das referências Evandro Carlos Jardim, com quem aprendeu gravura em metal. Na Faap, expandiu seus conhecimentos em desenho com a professora Amélia Toledo.
Na Universidade de Arte Internacional de Veneza, na Itália, o pintor Mario de Luigi foi uma grande referência em estudos com pintura.
Grande nome no meio das artes e referência importante no contexto artístico-cultural, a artista plástica ítalo-brasileira Maria Bonomi é uma de suas grandes incentivadoras do trabalho com papel.
Em 1992, iniciou seus trabalhos com papel no ateliê experimental Francesc Domingo no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.
Em sua carreira, Eliana Anghinah participou de inúmeras exposições pelo Brasil e em outros países, entre eles República Tcheca, Bulgária, China e Portugal. No Japão, Eliana teve uma de suas experiências mais enriquecedoras: em 1996, um convite do artista Hata Yutaka a levou para uma vivência em uma vila (Imadate-cho)de produtores de papel feito à mão na província de Fukui; ali ela tem contato com o washi - papel tradicional japonês feito a partir de fibras vegetais. A experiência de dois meses e meio na fábrica de produção de washi serviu para que a artista pudesse apresentar suas obras com fibras de bananeira e ampliar definitivamente seus conhecimentos com o uso do papel.
O trabalho no Japão abriu espaço para o contato com a Iapma (International Association of Hand Papermakers and Paper Artists), instituição que reúne artistas, produtores e interessados em geral sobre a utilização do papel como forma de arte. Eliana também é membro- associada da North American Hand Papermakers (NAHP), com sede em Nova York.
Atualmente, Eliana Anghinah desenvolve seus projetos artísticos em estúdio próprio, no qual o trabalho "Circulares" é um dos mais importantes.

OBRAS

























texto Maria Bonomi
"Logicamente a primeira inquietação de Eliana Anghinah não foi o papel. Sua formação e pesquisas correspondiam a um forte conhecimento da possível incorporação de linguagens plásticas já vivenciadas,que foram se esgotando nela mesma e à sua volta.
O "branco" a acompanha de longe, não com sentido de pausa, de fundo silencioso, mas bem ao contrário, participante, um suporte ativo, interlocutor.
Simplificando a compreensão de sua obra atual, diríamos que para ela mais interessou aquilo que estava "atrás da casa" do que na própria casa para habitar. Deve ser este o caminho real da maioria dos artistas que trilham a poderosa vertente dos materiais de "Arte". A iniciação não foi pelo portal da evolução de um artesanato sedutor, mas sim pela criação de "situações visuais palpáveis", onde veículo e imagem se fundem, renovando funções e conteúdos ancestrais. A sensibilização através dos delicados percursos da luz torna-se um tema em si mesma, que pode ser percebido em contraponto com o contorno dos símbolos incorporados.
Leitura envolvente da sequência dos 16 Circulares e dos comoventes 6 brancos 40 x 40 usando a medição da gravidade para aferir presenças e ausências dialogando com o "peso" do tempo e na escavação de apoio dos objetos-moldes selecionados anteriormente.
Materialização de uma resposta puramente imaginária, que se deu antes e depois da primeira motivação da artista. Delicadamente somos levados pelas mãos do nosso olhar a percorrer as pulsações infinitas desta série que varia constantemente sem se movimentar. Um caminho promissor da previsível e ilimitada vertigem, com todos os riscos que a Arte de ponta solicita.
Estabelecido este patamar de liberdade aguda, pela sua experimentação inquieta, Eliana Anghinah libera a ambiguidade de "tramas informadas"pelas substâncias de origem (bananeira e algodão) e dança pictoricamente com as mesmas. A polpa é utilizada de maneira inovadora e as tessituras circulam em evidência, surpreendendo pelas soluções, pelos formatos inesperados, pelo acoplamento de cores naturais até numa certa transgressão das leis da natureza.
Isso nos leva à questão da gênesis de sua visualidade: o Brasil. Existe uma sintaxe subjacente em toda obra de arte brasileira, que é reflexo de nossa generosa oferta de tecnologia e da inestimável escala física e espiritual de nossos conflitos e rompimentos com a tradição. Desse corajoso destino ninguém escapa, Eliana o representa muito bem.
Ela não se contentou com a superfície do papel. Foi além, deu-lhe um novo corpo e uma nova alma."
Maria Bonomi, artista plástica
Doutora em Poéticas Visuais pela ECA-USP em 1999.
Fundadora e Conselheira da AIAP e do Sinapesp - São Paulo.
INFORMAÇÕES
texto Arata Tani
Arata Tani: A arte em sintonia com a natureza
Há muitos artistas que se sentem atraídos pelo “washi” o papel artesanal japonês. A brasileira Eliana Anghinah é uma delas. No verão do ano passado, tive a oportunidade de conhecer Eliana no “Internacional Competition Tannan Art Festival” realizado anualmente na cidade de Takefu, província de Fukui, uma exposição aberta de Artes Plásticas Contemporânea. Há sempre um segmento especial, destinado aos artistas estrangeiros participantes deste festival e Eliana participava, juntamente com outros artistas brasileiros descendentes de japoneses.
A minha primeira impressão da obra de Eliana, foi “um pouco forte”.
É essa Eliana que está agora, preparando uma exposição individual no Japão, em Tokio. Recebi material sobre as obras que provavelmente vão compor esta exposição...
As obras continuam com o mesmo caráter daquelas que vi o ano passado, são trabalhos que tiram partido das texturas, com predominância da cor terra. Comparando estas obras com as dos artistas japoneses do mesmo gênero, posso afirmar que existe uma significativa diferença na maneira de preparar o papel. Ela não objetiva um acabamento sofisticado, como os artistas japoneses. Seu gesto espelha uma forma pura, natural e direta de preparar o papel. Os vegetais que servem de matéria prima são aproveitados integralmente assegurando assim que a “vida” e a “essência” das suas fibras sejam inteiramente conduzidas para o papel.
Uma arte em sintonia com a natureza. É essa a sensação que me atinge.
Nos trabalhos de Eliana há uma implícita coerência na ideia de que os vegetais que fornecem a matéria prima para os papéis provém da terra. Enfim, Terra, Flora e Homem constituem um sistema cíclico. Na sua obra, este conceito se traduz na incorporação da terra ao papel. A intenção é registrar a “vida da terra”, porque afinal as plantas dela sugam a água para viver. Em outras ocasiões, as superfícies constituídas por terra e fibras projetam sombras revelando texturas. O acúmulo destes fragmentos, através de uma outra ótica, nos conduz a imaginar a “fisionomia” infinita da Terra.
Este caráter se expressa em dimensões mais efetivas quando o desejo de criação de Eliana se sincroniza com a intenção cíclica da natureza.
Arata Tani
Crítico de arte
Tokyo Japan – abril 1997