top of page
Paulo Camillo Penna

São Paulo

1971

SOBRE

Corpo, mapeamentos.

A luz irrompe a madrugada e mobiliza os sentidos. Olhar, escutar, cheirar, tocar. Caminhar e perceber o próprio corpo, seres e lugares da cidade. Desenhar, gravar, fotografar, imprimir, pintar. Um movimento que opera no interior desses fazeres e os transborda, em ações de justaposição, sobreposição, invasão, troca. Imagens tomam forma em território híbrido entre práticas e figuras. As fotografias tiradas em caminhadas pelas margens ocultas do córrego vizinho se cruzam enquanto imagem impressa com xilogravuras, cujos cortes figuram segmentos e secções de corpos. Desenho diário de figuras tiradas de vegetais e animais, de exames e vídeos do interior do corpo humano, de mapas de hidrografias e de representações de constelações irradiam suas imagens. A cor invade desenhos gravuras e fotografias e se manifesta na pintura sobre papel ou madeira, articulada a incisões. Desenhos, gravuras, pinturas e fotografias se permeiam, em um imaginário de figuras que se hibridizam e se metamorfoseiam.

Percursos circulares de fazeres, figuras e imagens, que se cruzam e de desdobram em espiral, e se abrem ao devir de novas manifestações.

Persistência e insistência em viver.

Paulo Camillo Penna
SOBRE
OBRAS
OBRAS
EDU, CV, EXTRAS
Bio

Nascido em São Paulo, em 1970, Paulo Camillo Penna vive e trabalha em São Paulo. Doutor em artes na Universidade de São Paulo. Fez estudos de pós graduação na Byam Shaw School of Arts em Londres. Coordena desde 2006 o Ateliê de Gravura do Museu Lasar Segall. É proprietário, com Adalgisa Campos, da Casateliê, espaço independente de produção, ensino e venda de arte em São Paulo. Fez exposições individuais sendo as mais recentes "Desenho, fluxo, imagem" nas Oficinas Culturais Oswald de Andrade, “A Senhoria” na vitrine do Museu Lasar Segall no Metrô Santa Cruz - SP, “Hora Absurda” na Gravura Brasileira - SP, “A que se destina”, no Centro Universitário Maria Antonia - SP e “Figuren aus Brasilien” na Galerie Wildeshausen - Wildeshausen, Alemanha. Participa regularmente de exposições coletivas, entre as quais "Xilo, Corpo e paisagem" - SESC Guarulhos e SESC Pinheiros, “Gravura Extrema - Europalia Brasil” - Le Centre de la Gravure et de l'Image Imprimée - La Louvière, Bélgica; “Gravadores Brasileiros Contemporâneos”, exposição itinerante no Hillyer Art Space Washington, EUA; Fundacion Sebastian e Instituto de Artes Gráficas de Oaxaca, México; “V ème Biennale Internationale de la Gravure D'Ile de France”, Versailles, França; “Impressões” – Santander Cultural de Porto Alegre e “Do Cordel à Galeria” – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Realizou projetos de arte pública, entre as quais: "Projeto Pélago" e "Projeto Tamanduateí" na cidade de São Paulo. Possui obras em coleções particulares e públicas, como Pinacoteca o Estado de São Paulo; Museu de Arte Brasileira, SP e Museu de Arte Contemporânea Dragão do Mar, Fortaleza.

INFORMAÇÕES
texto crítico

A cidade invisível de Paulo Penna 

Ana Magalhães – curadora, MAC USP  


Recebo em casa uma caixa quadrada, forrada de um tecido azul marinho. Uma espécie de caixa-arquivo, em que leio as palavras “Desenho, fluxo, imagem”. Dentro dela estão 12 impressões em formato folio, contendo pequenos textos e imagens. Assim, Paulo Penna havia materializado seu trabalho com a gravura, o desenho e a fotografia, ao qual vem se dedicando nos últimos quatro anos. Cada folio contém reproduções de originais realizados pelo artista, sendo cada conjunto introduzido por um texto curto: “Gravura”, “Rios”, “A água e o barco”, “A casa”, “Convívio”, “Debaixo da árvore, um sonho”, “Desenho”, “Um ser que caminha pela cidade”, “Um sonho, o voo”, “Fotografia” e “Mar”. Imagens e textos não criam uma narrativa linear, mas articulam-se entre si para falar da experiência do artista vagando pela cidade. Por acaso, esta cidade é São Paulo, já que é nela que Penna vive. Mas embora haja alguns elementos nos quais a reconheçamos, aqui ela pode ser qualquer grande cidade do mundo contemporâneo. Alguns registros em fotografia das intervenções que Penna fazia com grandes gravuras em lambe-lambe nos muros da cidade, ou aspectos da sua arquitetura industrial, dos rios canalizados, alternados com parques, são indícios da São Paulo contemporânea, mas que ganha aqui certa ideia de “megalópole-modelo” do mundo de hoje.  Entretanto, não estamos mais diante da voracidade pulsante de uma cidade que se refaz a cada momento, na qual pulula a novidade, e do tempo acelerado. Andar pela cidade, para Penna, parece ter dois tempos, duas dimensões: o tempo do abandono – ou daqueles recantos da cidade aonde ninguém mais vai – e o tempo do sonho – desses mesmos recantos imaginados. O sonho está implicado não só em dois títulos dos pequenos textos que acompanham os folios, mas também no folio intitulado “Mar”: ele parece ser o fim de tudo, isto é, o lugar do escape, da abertura do horizonte, enfim, que vinha se anunciando nas fotografias feitas pelo artista em outros pontos da cidade. Quem conhece São Paulo, sabe o quão difícil é encontrar um horizonte aqui, mas a sensibilidade de Penna vai à caça dele, nos lugares mais imprevisíveis...  Ao mesmo tempo, o horizonte diz respeito aos formatos com os quais o artista trabalha. Partindo de xilogravuras de figuras em escala humana, que são dispostas verticalmente, o formato paisagem, horizontal, vem se medir com a dimensão da figura. A escala da figura é um dado muito importante para Penna, sobretudo porque ele está atento para a inserção de sua presença corporal e sua escala na escala da cidade. O corpo humano reemerge no cotejamento com os troncos e copas das árvores que o artista desenha à aquarela. Os finos traços que esboçam a figura sugerem uma malha de rios e riachos, que também aparecem nas fotografias de barcos e córregos canalizados. É como se fosse tudo uma matéria só. Apesar de Penna trabalhar com vários suportes e técnicas, estes se entrelaçam para talvez reforçar a ideia de que o artista e o corpo do artista são parte inerente de seu entorno, por assim dizer. Isso é enfatizado pelo fato de que alguns detalhes reproduzidos nos folios das xilogravuras originais estão ali em sua escala real.  Xilogravura, desenho, aquarela, gravura em metal e fotografia combinam-se na imaginação do artista para recriar a cidade que não vemos mais. Marco Polo – uma espécie de alter-ego de Italo Calvino, em seu famoso livro As cidades invisíveis – fala da cidade “feita das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado”, que “se embebe de uma onda que reflui das recordações e se dilata”. A cidade que emerge das deambulações de Paulo Penna é como a Veneza homenageada por Calvino: uma cidade afetiva, a qual se percorre como um viajante num mundo novo. Há certa melancolia na fantasia que o artista constrói nessa caixa-arquivo da cidade: essa coletânea de objetos transforma-se assim numa caixa de recordações voláteis, quem sabe se reais ou não, uma espécie de Odisseia paulistana

bottom of page