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Regina Silveira

Porto Alegre

1939

SOBRE

"No caso específico de Regina Silveira, a maturação de sua poética parece ter sido determinada pelo contato com a obra de dois artistas aparentemente opostos pelas posturas que assumiram em suas trajetórias: Iberê Camargo e Marcel Duchamp. 
Do primeiro (de quem a artista foi aluna em Porto Alegre), Regina Silveira teria apreendido a sua angústia existencial de fundo, o que a levou a romper com sua concepção inicial de arte baseada num aprendizado extremamente rígido, conservador. Dele absorveu igualmente o encarar a técnica como um meio e não um fim, por último, Camargo parece tê-la feito duvidar pela primeira vez dos códigos de representação cristalizados pela tradição. 
A partir do contato com a obra de Duchamp (ocorrido nos anos 70), Regina Silveira percebeu que o caminho para a maturação de sua poética era recuperar, em chave crítica, aqueles códigos anteriormente desprezados, reinventando-os, para deles retirar outras possibilidades de significação. Conscientizou-se de que a arte poderia ser não apenas a emanação da angústia do artista perante o mundo, mas antes um sistema organizado e repleto de regras a ser colocadas em xeque pelo artista. 
Regina Silveira trouxe como resíduos saudáveis de sua experiência com Iberê Camargo o tom soturno de seus trabalhos, o gosto pela deformação expressiva dos signos, a desconfiança irrestrita em relação à eficácia, nos dias de hoje, da arte e seus códigos institucionalizados. Com Duchamp, essa desconfiança transformou-se em ironia implacável, em mordacidade voltada para a desestabilização dos conceitos cristalizados de arte".


Tadeu Chiarelli
CHIARELLI, Tadeu. Artista e orientadora.  In: MORAES, Angélica de (org.). Regina Silveira: cartografias da sombra. São Paulo: Edusp, 1996. p.215-216.

Regina  Silveira
SOBRE
OBRAS
OBRAS
EDU, CV, EXTRAS
Bio

Graduada em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da UFRGS (1959); Mestrado (1980) e Ph.D. (1984) na Escola de Comunicação e Artes da USP - Universidade de São Paulo, Brasil. Professora do Instituto de Artes da UFRGS (1964-69), Universidad de Puerto Rico, Campus de Mayaguez (1969-1973), FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado, São Paulo (1973-85) e Escola de Comunicação e Artes, USP, desde 1974.

A artista participou de várias bienais, como Bienal de São Paulo (1981, 1983, 1998, 2021), Bienal Internacional de Curitiba (2013, 2015) Bienal do Mercosul (2001, 2011), Porto Alegre, Brasil; Bienal de La Habana, Cuba (1986, 1998 e 2015); Médiations Biennale, Poznan, Polónia (2012); 6ª Bienal de Taipei, Taiwan, (2006); 2ª Trienal de Setouchi, Japão (2016). Algumas de suas exposições coletivas mais recentes: “Walking through Walls”, Martin Gropius Bau, Berlin, Germany, 2019; “Die Macht der Vervielfältigung”, Leipziger Baumwollspinnerei, Leipzig, Alemanha 2019; “Radical Women: Latin American Art”, 1960-1985, Hammer Museum, Los Angeles, EUA, 2017; Brooklyn Museum, NY, EUA, 2018, Pinacoteca do Estado, SP, Brasil, 2018; “O Poder da Multiplicação”, MARGS, Porto Alegre, Brasil, 2018 ;; “Mixed Realities”, Museu Kunst, Stuttgart, Alemanha, 2018; “Imprint”, Academy of Fine Arts, Warsaw, Poland, 2017; “Future Shock”, Site Santa Fe, Santa Fe, EUA, 2017; “Consciência Cibernética (?)”, Itaú Cultural, São Paulo, Brasil, 2017.

As últimas exposições individuais de Regina são: “Limiares”, Paço das Artes, São Paulo, Brasil 2020; “Up There”, Farol Santander, São Paulo, Brasil, 2019; “EXIT”, Museu Brasileiro da Escultura - MuBE, São Paulo, Brasil, 2018; Unrealized / NãoFeito “, Alexander Gray Associates, NY, EUA, 2019,“ Todas As Escadas ”, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil, 2018; “Regina Silveira”; “Crash”, Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil, 2015; “El Sueño de Mirra y Otras Constelaciones”, Museo Amparo, Puebla, México, 2014; “1001 Dias e Outros Enigmas”, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre Brasil, 2011; “Abyssal”, Galeria Atlas Sztuki, Lodz, Polônia, 2010; "Lumen", Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha, 2005.

Entre outros, recebeu os prêmios Prêmio MASP (2013), Prêmio APCA pela trajetória (2011) e Prêmio Fundação Bunge (2009). O artista também recebeu bolsas da Fundação John Simon Guggenheim (1990), Fundação Pollock-Krasner (1993) e Fundação Fulbright (1994).

Seu trabalho está representado em muitas coleções públicas, algumas delas como: Banco de la República de Bogotá, Bogotá, Colômbia; Coleção Itaú, São Paulo, Brasil; Coleção SESC, São Paulo, Brasil; El Museo del Barrio, Nova York, EUA; Museu de Belas Artes, Houston, TX, EUA; MAC - Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Brasil; MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand- São Paulo, Brasil; MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; MAM - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil; Agnes Etherington Art Centre, Kyngston, Canadá; Museu de Arte Contemporânea de San Diego, La Jolla, EUA; Museu de Belas Artes de Taipei, Taiwan; Museu de Arte Moderna, Nova York, EUA; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil; Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha.

INFORMAÇÕES
texto crítico

Trama & miragem


“O olho cambiante transforma tudo” 

William Blake 


Antes de que a aura da imagem fosse destronada pela fotografia com seu universo da reprodução, a gravura já praticava a multiplicação visual, colocava em pauta a essência controversa das cópias. Há décadas, Regina Silveira vem construindo um heterodoxo acervo artístico no qual a comunhão da gravura, a fotografia e a imagem digital (entre outros destinos de impressão) fornece um território híbrido que mexe com a aura estabelecida e territorial das imagens e suas origens. De fato, a gravura exploratória da artista não renuncia a nada, ela abriga características deste registro até ignotos confins, como uma expansão gráfica que responde à implosão do meio. A presença de outros tratamentos da imagem -sem o pedigree do moderno e que fazem parte da indústria contemporânea da visão- revoluciona o pathos e o ethos desta poética -tanto o repertório, os elos, como a praxe, o processo-, o que não deixa ao selo historicista da gravura ser marca exclusiva, índice do arcaico. Trata-se de uma imagética que respira uma polissemia de preocupações, além das linguagens convencionais, a serem contempladas com outros olhos cambiantes (o que se oferece de forma representativa nos espaços do Museu da Chácara do Céu). Nesta produção reconhecidamente expandida de Regina Silveira, Blue skies (2015) - titulo em total sintonia com o nome do museu - se situa como emblema pelas diferentes aproximações visuais que permite, pois constrói um limiar perceptivo elaborado para que o pixel do bordado desta gravura antiga a sua leitura plena, à altura da imaginação, e no deserto do real, adquira qualidade de miragem gráfica. Aliás, a estrutura do próprio bordado, de alguma forma, já é uma matriz da imagem digital, segundo reconhece a artista. Trama que está não só nesta gravura com sete cores, como chega a outros trabalhos e suportes (prints digitais, impressões sobre alumínio, objetos ou à carroceria do ônibus, numa verdadeira volta de parafuso de coordenadas e dimensões), e onde sempre se propõe outro contrato social com as imagens: uma mudança-negociação de imaginários, experiência estética e de nosso próprio lugar e relação. Dai também que não se esconda em Blue Skies a sua construção, mostrando a sua feitura nua, em descoberto, sem fechar, em parte porque é uma situação poética -a construção de nuvens, uma correspondência celeste habitual no repertório da artista- que joga com a própria fenomenologia da imagem (com a sua construção e percepção ao uníssono, como meta-poética), sendo ao mesmo tempo serigrafia, pixel, costura numa outra arquitetura cognitiva; assim como é uma ironia visual o gap produzido conscientemente com a exposição da tarefa (tecido virtual) e a inclusão do objeto agulha (fidedigno) que, simuladamente, a produz. Como iconografia artística contemporânea que embaralha de novo as categorias, ela já é signo de nosso tempo mais problemático que daquele unidimensional de outrora. 


Adolfo Montejo Navas

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