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Renina Katz

Rio de Janeiro

1925

SOBRE

No início da carreira, Renina Katz dedica-se à pintura e realiza retratos e paisagens do Rio de Janeiro. Na década de 1950 sua obra denota preocupações sociais com um caráter de denúncia. Revela o universo dos trabalhadores urbanos e de personagens marginalizados, como nas várias gravuras que tratam do tema dos retirantes (1948/1956) ou no álbum Favelas, 1956. Suas xilogravuras apresentam um caráter realista, uma mensagem direta e grande concisão de elementos formais e têm grande requinte técnico, sendo comparadas, por alguns críticos, com a produção da gravadora alemã Käthe Kollwitz (1867 - 1945). A emoção é expressa graficamente na contundente oposição entre os pretos e brancos que confere às cenas o aspecto dramático, como ocorre em Retirantes, s.d.

Renina Katz deixa os temas ligados ao realismo social a partir da metade da década de 1950, quando sua obra passa gradualmente a adquirir um caráter não figurativo, embora permaneça nela a relação com a paisagem. A artista passa a enfatizar, cada vez mais, o jogo de transparências em suas obras. Inicia a produção em litogravura na década de 1970. A maioria de suas gravuras são sugestões de paisagens, concebidas como lugares da memória. Na opinião do crítico Roberto Pontual, quando suas gravuras pendem para o caráter lírico, Katz aproxima-se da atmosfera transparente e musical das obras de Fayga Ostrower (1920 - 2001).

Na série Lugares, 1981, a gravadora parte da representação da paisagem urbana, também como um lugar da memória, inspirando-se no poema de Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987) intitulado Paisagem: Como Se Faz. Ela afirma que "a cor surgiu como uma necessidade na evolução do trabalho, e a multiplicação das matrizes trouxe a possibilidade de explorar os vários valores tonais".1 Para obter as superfícies translúcidas, típicas em suas obras, Renina Katz grava muitas matrizes e aplica várias cores, realizando diversas impressões para obter uma única gravura. Em trabalhos posteriores, como Cosmos 2, 1992,  ou Limite 2, 1993, destacam-se a sutil luminosidade e o surpreendente uso da cor.

Renina Katz
SOBRE
OBRAS
OBRAS
EDU, CV, EXTRAS
Bio

Renina Katz Pedreira cursa a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, entre 1947 e 1950. Tem como professores, entre outros, Henrique Cavalleiro (1892 - 1975) e Quirino Campofiorito (1902 - 1993). Licencia-se em desenho pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil. Inicia-se em xilogravura com Axl Leskoschek (1889 - 1975) , em 1946. Incentivada por Poty (1924 - 1998), ingressa no curso de gravura em metal, oferecido por Carlos Oswald (1882 - 1971) no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Muda-se para São Paulo em 1951, e leciona gravura no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp e, posteriormente, na Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, até a década de 1960. Em 1956, publica o primeiro álbum de gravuras, intitulado Favela. A partir dessa data, é docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, onde permanece por 28 anos, e na qual apresenta teses de mestrado e doutorado.

INFORMAÇÕES
Depoimentos

"Lá pelos anos cinqüenta e poucos, como eu era uma geração pós-guerra, a geração libertária da guerra contra o fascismo, aderi à vertente do chamado realismo social ou socialista. Trabalhei no que poderia ser considerado proselitismo: a série das favelas, dos retirantes, dos camponeses sem terra, dos meninos do morro etc... (...) Eu ia aos lugares e trabalhava d´après nature. Da série dos retirantes, uma boa parte dos esboços foi feita na Estação do Norte, em São Paulo (...) aos sábados e domingos eu ia lá e desenhava muitíssimo. (...) 
Esse período terminou, e, por uma série de razões, esgotou-se. Eu mudei, era muito jovem, minha perspectiva histórica mudou também, e isso influenciou meu trabalho. Foi uma passagem complicada. (...) Comecei a olhar para fora, comecei a fazer paisagens, a descobrir também a paisagem urbana e, aos poucos, o trabalho foi se transformando. O meu trabalho, que todo mundo acha muito abstrato. . . é relativamente abstrato, porque sempre tem uma referência do entorno, da paisagem... (...) 
Fiz muitas gravuras em serigrafia, além da tese de mestrado (...) Quando comecei a me dedicar regularmente à litografia, fui muito criticada. Os gravadores diziam que fazia estampa e não gravura (...) Também continuo a fazer gravuras em metal. São trabalhos que não circulam muito".
Renina Katz a Laurita Salles - junho de 1993
Depoimento de Renina Katz a Laurita Salles. In: Museu da Gravura Brasileira. Curitiba, jun. 1993. p. 8, 10-11, 14-15.



"Eu comecei pela descoberta dos gravadores japoneses, ainda aluna de pintura na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro... Vi umas estampas japonesas e fiquei fascinada... Comecei então a procurar as gravuras... Frans Masereel, que era um expressionista belga, Käthe Kollwitz, Munch etc. (...) Nessa época havia no Rio um artista austríaco que dava aulas, chamado Axl Leskoschek, e era um excelente xilogravador... Ele era um professor que transmitia uma tal paixão pela xilogravura que acabou contaminando todo mundo. (...) Eu comecei a achar que a xilogravura, naquele momento, era a linguagem adequada para o meu projeto artístico: eu estava numa fase de muito engajamento político, de denúncia..., enfim, todos aqueles arroubos juvenis e achava que a xilogravura, por causa dos cortes, das incisões... (eu trabalhava em preto-e-branco, sem cor alguma), me daria aquilo de que eu precisava. 
Tinha o Goeldi, que era um exemplo magnífico, tinha o Lívio Abramo, Segall, tinha o Munch..., enfim, um conjunto de gravadores que apontavam um caminho no qual eu poderia obter resultados artísticos que faziam parte do meu projeto... E aí eu me encantei totalmente..., fui ver os mexicanos, fui ver o Posada, o Leopoldo Mendez, que era um gravador excelente e fundou o Taller de Artes Graficas do México, que fazia um resgate da gravura popular nos moldes do Posada, dos tempos da revolução... Então com esse conjunto de informações eu fui de corpo e alma, e fiquei fazendo praticamente só desenho e xilogravura, com algumas pequenas incursões na gravura em metal, de 1948 até 1956... Em 1956 me deu uma espécie de crise: eu achava que minha gravura estava ficando numa elaboração extrema, num refinamento formal, e que ela estava perdendo a força de convicção do recado que eu queria dar... Porque era uma gravura muito comprometida com os recados... (...) E aí eu mudei os rumos, partindo para uma outra coisa, que eu ainda não definia bem o que era, em que eu pudesse transmitir outros recados... E tudo isso estava envolvido também com a minha militância: em 1956 eu já não era uma jovem militante..."
Renina Katz a Renato P. Dória - 1995/1996
A XILOGRAVURA em Maria Bonomi e Renina Katz. Revista de Arte e Arqueologia. Campinas, Unicamp, n. 2, p. 311, 1995.

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